domingo, 19 de dezembro de 2010

GUANTÁNAMO E OS "DESENFIANÇOS"

«O Governo rejeita qualquer envolvimento na questão dos voos com detidos de Guantánamo, apesar de o jornal espanhol ‘El País’ ter ontem divulgado novos telegramas do portal WikiLeaks, que dão conta de "pressões" de Washington sobre o Governo e da "cautela" com que o executivo autorizou esses voos.»

(Correio da Manhã 17-12-2010)


Esta notícia do Correio da Manhã fez-me recuar algumas décadas e traçar uma analogia, ressalvando as devidas dimensões, com uma situação típica bem presente em todos que cumpriram o serviço militar - os "desenfianços".
Corria o ano de 1973 e o Pai do Bicho encontrava-se a cumprir o serviço militar no Campo de Tiro da Serra da Carregueira. Sempre que era escalado para o serviço de Sargento de Dia era normal ser abordado por recrutas solicitando que permitisse a sua saída do quartel, sem autorização oficial, para breves deslocações a casa. Na gíria militar a essa situação dava-se o nome de "desenfianço".
Como os poderes do Pai do Bicho não lhe permitiam conceder tal autorização, mas compreendia as razões humanas dessa necessidade, respondia assim às referidas solicitações:
"Está bem. Vocês "desenfiam-se" por vossa conta e risco e não comunicarei a vossa ausência se até às X horas (uma hora determinada) vocês se apresentarem no quartel. Farei tudo para, oficialmente, ignorar os vossos desenfianços"
O Pai do Bicho tinha conhecimento das escapadelas dos recrutas mas fazia "vista grossa".
Não sei bem porquê, mas a eventual escala destes voos em solo português transportando prisioneiros de Guantánamo, trouxe à memória do Pai do Bicho alguns momentos vividos em 1973 no quartel da Serra da Carregueira...

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