terça-feira, 16 de dezembro de 2008

A TRADIÇÃO AINDA É O QUE ERA





Quando em Dezembro de 2001, Fernando Jorge Loureiro de Reboredo Seara foi eleito para dirigir a Câmara Municipal de Sintra, o "Pai do Bicho" receou que o seu desenraizamento deste concelho o levasse a pôr termo a algumas tradições que ainda permaneciam vivas. Como é sabido, este conhecido comentador desportivo, além de ter leccionado, foi deputado, nasceu em Viseu e habita há muitos anos em Lisboa. Não é propriamente um homem da região saloia.
Porém, o tempo foi passando, um mandato chegou ao fim, outro se seguiu e até agora o "Pai do Bicho" não encontrou razões para recear que o Professor Seara não respeitasse as tradições do concelho, entre elas os mercados a céu aberto que existem há muitos anos em Mem Martins, designados por "Mercado de Fanares" e "Mercado da Capela".Às quartas-feiras e sábados, logo pela aurora, é um prazer apreciar a chegada de indivíduos de etnia cigana em furgões, fazendo surgir junto a edifícios, as suas tendas, toldos, bancas e demais apetrechos que se erguem do chão como cogumelos, rodeando, barricando e assemelhando os vários quarteirões de prédios de habitação, a novas formas de condomínios privados vedados pelo aparato envolvente. Sobretudo ao sábado, a chegada destes mercadores e o elevado nível de decibéis que a sua instalação no local provoca, constitui um excelente despertador para os moradores, que deste modo se dispensam de custear a aquisição de relógios para o efeito.Os locais destinados ao estacionamento das viaturas dos residentes são substituídos por lotes de áreas de negócio dos vendedores ambulantes, "convidando" quem ali vive a sair temporariamente da sua área de residência. Muitos optam por sair do local, efectuando um passeio matinal ou visitando familiares que residem noutras paragens. Assim se junta o útil ao agradável: proporciona-se espaço para a actividade comercial de uns e sugerem-se novas formas de lazer a outros.
Os "Mercados de Fanares" e da "Capela" dão vida a Mem Martins, retirando esta freguesia da pasmaceira e ausência de agitação que predominam durante os restantes dias em que não há mercadores. Nestes mercados não faltam ofertas de conceituadas marcas de vestuário e perfumes a preços muito acessíveis: Lacoste, Burberrys, Armani, Polo Ralph Laurent e outros produtos para satisfazer dependências, enfim... Também é possível encontrar cd's de música ou filmes que ainda não entraram no circuito comercial das lojas convencionais, o que só prova que os ditos feirantes "estão muito à frente". Até marcas como a TMN, a Vodafone, ou a Optimus estão presentes através "daqueles telemóveis" parecidos na forma e com cheiro a barras de sabão.
As escadas das habitações, revelam-se polivalentes ao serem utilizadas como gabinetes de provas, onde nem falta um porteiro, normalmente de etnia cigana, a impedir a entrada de moradores nas escadas, enquanto estas são usadas como provadores. Sabe-se até que vários condomínios, ponderam já a instalação de espelhos nas respectivas escadas para apoio ao negócio. As crianças, filhas dos vendedores ambulantes, deambulam à volta das bancas, satisfazendo as suas necessidades fisiológicas ao ar livre, aproveitando o acto para regarem e fertilizarem a flora local, dispensando os custos inerentes à construção de instalações sanitárias.
Por vezes, os moradores que optaram por permanecer no local ou os visitantes dos Mercados, assistem gratuitamente a espectáculos que se assemelham a "tragicomédias de elevado teor cultural".
Também é gratuito o exercício físico que estes mercados proporcionam a quem os visita, na medida em que é posta à prova a capacidade de choque de cada um, pelos constantes encontrões sofridos, ao mesmo tempo que testam a versatilidade e flexibilidade por serem obrigados a contornar ilhas de artigos expostos em mantas espalhadas artisticamente no solo.
Cerca das 14 horas volta então a tristeza e a pasmaceira habitual, com os vendedores ambulantes a desmontarem os "estaminés" e a debandarem. Atrás de si deixam um local onde abundam papéis, cartões e plásticos voando ao sabor do vento, superando o efeito de quaisquer "confettis" lançados no Carnaval de Loulé, Torres Vedras ou Ovar.Outra vantagem da existência destes Mercados é o combate ao desemprego na medida em que são destacadas brigadas da Câmara Municipal de Sintra que se ocupam a repor a limpeza e dignidade que os moradores merecem encontrar quando regressarem do seu passeio ou visita a familiares. Consta até que o reconhecimento internacional destes Mercados estará para breve, havendo rumores que passarão a designar-se por F.I.M.M. ou seja, Feira Internacional de Mem Martins.
Afinal, o receio do "Pai do Bicho" era infundado porque o Professor Fernando Seara percebeu todas as vantagens inerentes à existência destes Mercados e decidiu bem mantendo as tradições em Sintra, pelo menos na Freguesia de Algueirão-Mem Martins, mais concretamente nos Mercados de Fanares e da Capela.

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